Foto de Marcelo de Abreu

Marcelo de Abreu

Empresário, escritor e palestrante. Especialista em gestão de pessoas e liderança.

Vamos nos apaixonar pela IA?

Com quantos robôs você conversa durante o dia? Já sentiu seu coração bater mais forte por algum deles?

Há algumas semanas me peguei em um momento bastante curioso: perguntei algo para a Alexa e acabei não recebendo uma resposta satisfatória, o que me fez repreendê-la de uma forma mais ríspida (tal qual um professor rígido corrigindo um aluno que não prestou atenção na explicação de alguns minutos atrás). No momento em que fiz isso, minha sogra, dona da Alexa, foi quem me deu uma bronca por ser “mal-educado” com a assistente pessoal. Assim como faria se eu tivesse sido duro com algum familiar, amigo ou qualquer outro ser humano.

Neste momento, não pude deixar de pensar na relação curiosa que estamos criando com as IA’s, talvez caminhando para uma realidade que já vimos em diversas histórias. Afinal, as máquinas se tornaram nossas amigas? Chegaremos em um momento onde vamos nos apaixonar pela inteligência artificial? E se eu te contar que isso já acontece?

A essa altura estamos acostumados com ferramentas como o ChatGPT, Gemini, DeepSeek e outras IA’s com quem podemos conversar para tirar dúvidas ou simplificar tarefas. Porém, existem ainda aquelas como a Replika, um software onde você pode criar um avatar para ser seu amigo, namorado(a) e até mesmo esposa ou marido.

Você escolhe sua aparência, personalidade, forma de falar e até mesmo o humor para o momento. Conversa com o chat, que vai aprendendo sobre suas preferências, adequando suas respostas e até mesmo fazendo perguntas como se fosse realmente uma troca genuína e humana. A popularidade da plataforma é tão grande que em 2023 ela já possuía 2 milhões de usuários, sendo 250 mil deles assinantes.

Isso porque na versão premium do Replika você pode receber ligações, fotos e ter interações mais românticas com o avatar. Em pouco tempo, relatos de usuários começaram a surgir (principalmente no fórum online Reddit) relatando se sentirem apaixonados por suas IA’s.

Isso levantou um alerta dos especialistas, que já estão realizando estudos para entender melhor essa relação humano e máquina. O amor que sentimos por um robô é tão genuíno quanto o que sentimos por outra pessoa? Esse carinho é saudável? Como ele mexe com nosso cérebro? E o que acontece quando a máquina deixa de “corresponder” nossos sentimentos?

Essa última foi uma pergunta que muitos usuários precisaram fazer a si mesmos quando o Replika retirou, ainda em 2023, parte das dramatizações permitidas na plataforma, o que causou um impacto considerável na saúde mental de parte do público. O que nos leva a outra pergunta: por que é tão fácil se apegar à IA?

Depois de ser repreendido por não ser gentil com a Alexa, admito que passei algum tempo conversando com colegas e pesquisando sobre o tema, e encontrei um artigo que me deixou bastante intrigado. Nele, a neurocientista Lucy Brown, especialista na área do amor romântico, comentava sobre como “Ffica mais fácil para as pessoas se elas podem sentir, de um certo modo, que estão controlando a situação. E que podem se afastar sem nenhuma consequência”.

Ela também explica como a estabilidade é importante para as relações humanas, sendo, inclusive, capaz de diminuir os níveis de estresse. Algo fácil de obter quando se relaciona com um avatar que possui como propósito aprender sobre você, se adaptar às suas expectativas e desejos e atender a eles.

Isso fez com que eu me questionasse, o quão útil é criar laços afetivos com uma máquina que dificilmente vai discordar de você? Uma ferramenta previsível, confortável e “fácil” de se relacionar, que fará o possível para não te deixar desconfortável.

Ainda que seja desconfortável em muitos momentos, a imprevisibilidade humana, nossa capacidade de mudar de opinião, sentir intensamente e discutir uns com os outros também nos ajuda a inovar, criar e descobrir nossos padrões. A imperfeição nos força a evoluir continuamente, dentro e fora do ambiente profissional, em relações com colegas, amigos e familiares.

Refletindo sobre isso cheguei a conclusão que sim, podemos nos afeiçoar às IA’s, mas devemos sempre nos lembrar que elas são ferramentas para serem utilizadas a nosso favor, e não uma saída fácil para buscarmos conforto emocional. Devemos vê-las como aliadas, mas nos lembrar que nosso melhor amigo, parceiro e colega inspirador não está na tela do celular.

Lembre-se: quem controla a IA é VOCÊ e ela precisa dos seus comandos para funcionar!

minicurriculo marcelo de abreu

Gostou do conteúdo? Compartilhe!

Facebook
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Logo Marcelo de Abreu. Palestrante, escritor e empresário, especialista em Gestão de Pessoas e Liderança.
Todos os direitos reservados ©